Cannabis: O Uso Racional dos Produtos na Prática Clínica
O uso crescente da cannabis medicinal, utilizando as partes aéreas (folhas e flores) da planta para produzir extratos, é observado há pouco mais de um século.
Vários povos ao redor do globo já relataram suas propriedades farmacológicas desde períodos antes de Cristo.
A Cannabis sativa é uma planta milenar já presente em nosso meio seja para a produção de tecidos e cordas com suas partes mais fibrosas (cânhamo) ou para elaboração de produtos psicoativos.
Atualmente, estamos em um momento de grande euforia para uso desses extratos, que nada mais são que fitoterápicos, com variada composição.
Na década de 1960, depois que o químico israelense, Raphael Mechoulam, revelou o THC e descreveu o sistema endocanabinóide com seus receptores no sistema nervoso central (CB1) e na periferia (CB2), o uso desses produtos tem sido mais bem compreendido e está saindo da clandestinidade e vem sendo descriminalizado.
Cannabis Medicinal: Regulamentação e Evolução
A legislação que regulamenta o uso recreativo e medicinal da Cannabis ainda está evoluindo e não nos cabe aqui emitir parecer sobre o assunto.
No início deste século tivemos a purificação do Canabidiol (CBD) para uso em epilepsia, sempre como uma alternativa para tratamento de síndromes não responsivas ao tratamento tradicional.
Com a pesquisa crescente, foram se observando outras indicações clínicas para uso da cannabis medicinal e especialmente dos extratos – que contém também outros canabinóides, flavonoides e terpenos – parecendo exercer maior efeito terapêutico que o CBD puro.
Tipos de Produtos e Segurança
Temos sido bombardeados com informações e mesmo propaganda de novos compostos diversos com ampla gama de indicações, como tratamento de dor crônica, ansiedade, insônia, transtornos de humor, doenças inflamatórias e degenerativas etc., mas ainda com baixo nível de evidência clínica.
Temos centenas de produtores e produtos com registros crescentes na ANVISA.
Há extratos mais purificados com menor percentual de THC e outros com até predomínio deste, que é o Canabinoide mais psicoativo do extrato. O efeito nos receptores ligados ao sistema dopaminérgico é mais potente e suas implicações em relação a abuso e dependência, um problema real.
As pesquisas vêm demonstrando que a combinação dos diversos componentes da planta (extratos) é mais potente (efeito entourage) e existe uma proporção segura para a composição dos mesmos, sendo aceito 2% de THC para se obter maior segurança e uma proporção em torno de 1/20 de THC/CBD.
Alguns produtos, cuja elaboração já está mais bem estabelecida e padronizada, encontram-se disponíveis em farmácia na proporção de 2% de THC e demanda receita B1 para sua dispensação, diferentemente de produtos que, apesar de seguirem a regulamentação da ANVISA para registro e importação, não possuem uma rede de suporte e não podem ser comercializados nas farmácias.
Ainda, há os produtos que nem sequer têm registro ou seguem padrões de elaboração, sendo vendidos inclusive sem rótulos que possam descrever sua composição ou indicar o farmacêutico responsável.
Cabe ao neurologista ou outro médico especialista prescrever a cannabis medicinal com responsabilidade, considerando os benefícios e a segurança do paciente, seguindo os preceitos da ética e da boa prática médica.