Epilepsia

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Dr. André Horácio

Epilepsia: Perspectivas para melhorar a qualidade de vida

A epilepsia continua sendo uma doença prevalente, com números chegando a dois em cada cem brasileiros com a doença. Portanto, a prevalência da epilepsia pode chegar a 2% na população geral, o que equivale a dizer que em uma sala de aula de 50 alunos, um deve ter epilepsia.

Globalmente, esse número vem caindo devido a melhor assistência à gestante e ao parto, evitando lesões cerebrais por hipóxia (falta de oxigenação no cérebro), assim como menor número de traumas de crânio.

A história, entremeada de misticismo e preconceito – já tendo sido chamada de “grande mal” – tornou a epilepsia estigmatizante, por sua apresentação em crises convulsivas de forma recorrente, muitas vezes repentina, sem avisos e em locais públicos.

Epilepsia é uma palavra que vem do grego e significa algo que vem de cima e abate a pessoa. Até hoje essa etimologia nos traz a lembrança do que é uma crise epiléptica.

Há descrições de crises epilépticas e ponderações sobre seu tratamento desde a época de Hipócrates, na Grécia antiga.

No século V a.C., Hipócrates já presume a origem cerebral da epilepsia. O entendimento da atividade elétrica cerebral, cujas alterações puderam ser registradas pelo eletroencefalograma já no início do século XIX, permitiram os primeiros diagnósticos de epilepsia.

O Que é Epilepsia?

A epilepsia é uma condição neurológica caracterizada por descargas elétricas anormais no cérebro, que se espalham e provocam crises recorrentes.
As apresentações clínicas da epilepsia variam desde manifestações sutis, com uma pequena saída do ar, conhecida como crise de ausência, até a típica crise tônico-clônica generalizada, que envolvem perda de consciência, rigidez muscular, convulsões e até perda de controle da urina e fezes, etc.

Crise Epiléptica e o Cérebro

Primeiro, precisamos entender que o cérebro tem uma estrutura anatômica e uma neurofisiologia que implica processos químicos e elétricos para seu funcionamento.
Quando acontecem descargas elétricas anormais localizadas e elas se espalham, temos o evento de uma crise epiléptica. A recorrência desses eventos é o que caracteriza a epilepsia.
A determinação de tratar, ou não, depende dessa probabilidade de recorrência. Os estudos estatísticos nos auxiliam a nortear essas decisões, mas é importante entender que a recorrência dos episódios torna cada vez mais provável que as crises epilépticas voltem a acontecer.

Formas de Manifestação da Crise Epiléptica

Qualquer pessoa pode ter uma crise convulsiva provocada, mas algumas têm maior predisposição, seja genética, anatômica, metabólica e em algumas delas encontraremos uma alteração que gera a descarga elétrica anormal. Em muitas não há um motivo identificado.
Há crises mais sutis, como pequenas ausências ou abalos musculares localizados, ou mesmo, alterações autonômicas. Essas crises muitas vezes demoram a ser diagnosticadas e tratadas.
Assim como, podemos ter as crises epilépticas típicas com a perda de tônus e consciência, evoluindo com rigidez e abalos musculares mais violentos – as convulsões – que depois deixam a pessoa em um estado de sonolência e confusão mental, retomando a consciência aos poucos.
As formas de manifestação das crises epilépticas variam conforme sua classificação.

Classificação da Epilepsia

Ao longo da história, a ciência foi desmistificado o problema, tirando a carga de “maldição” que já existiu sobre os acometidos com epilepsia, demonstrando o caráter secundário relacionado a lesões cerebrais ou genéticas e identificando a apresentação recorrente com sintomas diversos levando a classificação de epilepsia em:
  • Focal: a crise começa em uma área específica do cérebro (ex.: lobo temporal). Pode causar sintomas localizados (formigamento, alucinações).
  • Focal com generalização: a crise começa em uma região, mas se espalha para todo o cérebro, levando a uma convulsão generalizada.
  • Generalizada: a crise começa nos dois hemisférios cerebrais ao mesmo tempo, causando perda de consciência imediata.

Epilepsia: Evolução no Tratamento

O tratamento da epilepsia vem evoluindo muito nesses últimos 150 anos, junto com o entendimento de sua gênese. Historicamente deixou de ser feito por curandeiros ou religiosos, para ser baseado em evidência clínica com surgimento de diversas medicações cada vez mais eficientes para seu controle.
Junto com a eficiência, vem a redução dos efeitos colaterais e interações medicamentosas mais favoráveis.
Um dos primeiros medicamentos anti-crise para epilepsia foi o Fenobarbital (Gardenal), um barbitúrico usado há mais de 100 anos com bons resultados, mas cujos efeitos colaterais são muitas vezes limitantes, especialmente para a cognição.
Nesse período, o manejo da doença vem se modificando e as opções terapêuticas aumentando com maior especificidade para escolha que cada vez mais demandam a expertise de um neurologista especialista, o médico especializado para tratar a epilepsia.
Desde a década de 90, contamos com medicações mais modernas que tratam o problema e geram menos efeitos colaterais, permitindo uma boa qualidade de vida a mais de 70% das pessoas tratadas.
Na atualidade, o bom tratamento da epilepsia se encontra mais acessível, com custos menores e resultados melhores, trazendo qualidade de vida aos indivíduos portadores, que já podem sair às ruas, trabalhar, dirigir, constituir suas famílias e se sentir seguros de que não irão apresentar uma nova crise que os deixaria à mercê de sua própria sorte ou da solidariedade de um desconhecido que os socorra.
Quero deixar a mensagem de que vale muito a pena tratar e que podemos viver normalmente com a condição.
A consulta com o neurologista para tratar a epilepsia é o caminho e a especialidade médica que vai ajudar a lidar com a condição com mais segurança e tranquilidade.

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