A epilepsia continua sendo uma doença prevalente, com números chegando a dois em cada cem brasileiros com a doença. Portanto, a prevalência da epilepsia pode chegar a 2% na população geral, o que equivale a dizer que em uma sala de aula de 50 alunos, um deve ter epilepsia.
A epilepsia é uma condição neurológica caracterizada por descargas elétricas anormais no cérebro, que se espalham e provocam crises recorrentes.
As apresentações clínicas da epilepsia variam desde manifestações sutis, com uma pequena saída do ar, conhecida como crise de ausência, até a típica crise tônico-clônica generalizada, que envolvem perda de consciência, rigidez muscular, convulsões e até perda de controle da urina e fezes, etc.
Primeiro, precisamos entender que o cérebro tem uma estrutura anatômica e uma neurofisiologia que implica processos químicos e elétricos para seu funcionamento.
Quando acontecem descargas elétricas anormais localizadas e elas se espalham, temos o evento de uma crise epiléptica. A recorrência desses eventos é o que caracteriza a epilepsia.
A determinação de tratar, ou não, depende dessa probabilidade de recorrência.
Os estudos estatísticos nos auxiliam a nortear essas decisões, mas é importante entender que a recorrência dos episódios torna cada vez mais provável que as crises epilépticas voltem a acontecer.
Qualquer pessoa pode ter uma crise convulsiva provocada, mas algumas têm maior predisposição, seja genética, anatômica, metabólica e em algumas delas encontraremos uma alteração que gera a descarga elétrica anormal. Em muitas não há um motivo identificado.
Há crises mais sutis, como pequenas ausências ou abalos musculares localizados, ou mesmo, alterações autonômicas. Essas crises muitas vezes demoram a ser diagnosticadas e tratadas.
Assim como, podemos ter as crises epilépticas típicas com a perda de tônus e consciência, evoluindo com rigidez e abalos musculares mais violentos – as convulsões – que depois deixam a pessoa em um estado de sonolência e confusão mental, retomando a consciência aos poucos.
As formas de manifestação das crises epilépticas variam conforme sua classificação.
Ao longo da história, a ciência foi desmistificado o problema, tirando a carga de “maldição” que já existiu sobre os acometidos com epilepsia, demonstrando o caráter secundário relacionado a lesões cerebrais ou genéticas e identificando a apresentação recorrente com sintomas diversos levando a classificação de epilepsia em:
O tratamento da epilepsia vem evoluindo muito nesses últimos 150 anos, junto com o entendimento de sua gênese. Historicamente deixou de ser feito por curandeiros ou religiosos, para ser baseado em evidência clínica com surgimento de diversas medicações cada vez mais eficientes para seu controle.
Junto com a eficiência, vem a redução dos efeitos colaterais e interações medicamentosas mais favoráveis.
Um dos primeiros medicamentos anti-crise para epilepsia foi o Fenobarbital (Gardenal), um barbitúrico usado há mais de 100 anos com bons resultados, mas cujos efeitos colaterais são muitas vezes limitantes, especialmente para a cognição.
Desde a década de 90, contamos com medicações mais modernas que tratam o problema e geram menos efeitos colaterais, permitindo uma boa qualidade de vida a mais de 70% das pessoas tratadas.
Na atualidade, o bom tratamento da epilepsia se encontra mais acessível, com custos menores e resultados melhores, trazendo qualidade de vida aos indivíduos portadores, que já podem sair às ruas, trabalhar, dirigir, constituir suas famílias e se sentir seguros de que não irão apresentar uma nova crise que os deixaria à mercê de sua própria sorte ou da solidariedade de um desconhecido que os socorra.
Quero deixar a mensagem de que vale muito a pena tratar e que podemos viver normalmente com a condição.